Mosca brasileira de 7 cm é a maior do mundo e vive em formigueiros de saúva
15/09/2025
(Foto: Reprodução) Gauromydas heros registrada em Passa Tempo (MG)
Sirlei R Rocha / iNaturalist
Pouca gente sabe, mas a maior mosca do planeta vive aqui no Brasil. Trata-se da Gauromydas heros, uma espécie que pode chegar a incríveis 7 centímetros de comprimento, quase o tamanho de um beija-flor, [sem contar as antenas.
De longe, quem a avista pode até confundi-la com uma vespa caçadora da família Pompilidae. Além de imitar o zumbido desses insetos, a mosca exibe corpo escuro, às vezes com reflexos metálicos esverdeados ou azulados, asas opacas que variam de tons alaranjados a esbranquiçados e antenas alongadas, geralmente com as pontas alaranjadas.
As pernas traseiras também chamam atenção. Robustas, possuem fêmures alargados e um esporão curvo bem desenvolvido, principalmente nos machos.
Gauromydas heros fotografada em São Manuel (SP)
João Salvador / iNaturalist
Essa semelhança com vespas não é coincidência, mas sim uma estratégia de defesa. Como as vespas caçadoras têm picada dolorosa, predadores pensam duas vezes antes de atacar a mosca gigante que se parece com essa vespa.
Onde vive?
A Gauromydas heros é considerada endêmica do Brasil. A espécie é mais registrada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, mas também já foi vista em áreas do Sul, Nordeste e até do Norte do país. Pode ser encontrada tanto em ambientes abertos quanto em áreas florestadas.
Apesar de ser confundida com outras espécies grandes da mesma família, como a Protomydas coerulescens, o tamanho recorde e o esporão desenvolvido das pernas traseiras ajudam a diferenciá-la.
“Moscas G. heros podem ser confundidos com outras espécies gigantes da mesma família, como Gauromydas mystaceus, Protomydas rubidapex e Protomydas coerulescens. Essas duas primeiras ocorrem mais na Amazônia e, portanto, são mais difíceis de serem confundidas com ela”, explica Julia Calhau, entomóloga especialista nesse tipo de inseto.
Gauromydas heros registrado em Brasília (DF)
Paulo Henrique da Silva / iNaturalist
Ciclo de vida misterioso
O ciclo da Gauromydas heros ainda não é totalmente conhecido, mas sabe-se que envolve as fases de ovo, larva, pupa e adulto. Os adultos aparecem apenas nas épocas mais quentes do ano e vivem pouco tempo. O período mais longo da vida, ao que tudo indica, acontece nas fases imaturas, quando estão papleescondidas dentro de formigueiros de saúvas.
As fêmeas depositam os ovos sobre os formigueiros e as larvas acabam se instalando em câmaras de lixo dentro desses ninhos. Antes de empupar, elas migram para regiões próximas à superfície e, após algum tempo, surge o adulto que segue para a vegetação.
Cópula de Gauromydas heros vista no Espírito Santo
Leonardo Merçon / iNaturalist
Dentro das colônias de saúvas, as larvas de Gauromydas heros vivem como predadoras, alimentando-se de outros insetos que também habitam as câmaras de lixo, como larvas de mariposas e besouros.
Já os adultos, embora sejam vistos visitando flores, ainda geram dúvidas entre os cientistas: será que realmente se alimentam de néctar ou pólen, ou apenas usam as flores como pontos de encontro?
Relação com as formigas
A interação das larvas com as saúvas ainda é pouco compreendida. A simbiose com as formigas é conhecida, mas não se sabe se esse convívio traz algum benefício para os insetos hospedeiros ou se representa apenas uma forma de aproveitamento por parte da mosca.
“G. heros sempre foi considerada uma mosca rara, sendo difícil afirmar sobre impactos recentes na população da espécie”, acrescenta Julia. Sobre sua situação populacional, ainda não há dados suficientes para dizer se a espécie está em risco de extinção.
Devido à dificuldade de encontrar adultos na natureza, muitos registros vêm de coletas ocasionais com redes entomológicas ou em armadilhas genéricas, como as usadas para capturar insetos voadores. Curiosamente, já houve até casos de captura acidental em redes de neblina instaladas para o estudo de aves.
Embora seja dona de um título curioso - a maior mosca do mundo - a Gauromydas heros segue como um enigma científico. “Precisamos de mais estudos para compreender melhor o papel ecológico dessa mosca”, destaca a especialista.
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