Tragédia aérea da Voepass: cansaço de pilotos pode ter contribuído para queda, conclui Ministério do Trabalho
16/09/2025
(Foto: Reprodução) Escombros de avião em Vinhedo (SP) no dia 10 de agosto de 2024
Nelson Almeida/AFP
O tempo reduzido de descanso da tripulação do voo 2283, que caiu deixando 62 mortos em Vinhedo (SP), em agosto de 2024, pode ter sido um dos fatores contribuintes para a tragédia. É o que aponta um relatório do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) cujo teor foi divulgado nesta terça-feira (16).
O documento foi elaborado após uma auditoria feita pela equipe de fiscalização da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE-SP). Para isso, foram analisados:
as escalas de trabalho do comandante e do copiloto desde 1º de maio de 2024 até a data do acidente; e
os registros de check-in e checkout em hotéis para confirmar os períodos de descanso.
O objetivo, segundo a pasta, era entender “se a fadiga poderia ter sido um dos fatores que contribuíram para a queda da aeronave”. O voo era operado pela companhia aérea Voepass, antiga Passaredo.
"A conclusão foi que a empresa montou escalas que reduziram o tempo de descanso da tripulação, o que pode ter causado cansaço em um nível capaz de prejudicar a concentração e o tempo de reação dos profissionais. Esse fator, somado a outras possíveis causas, pode ter contribuído para o acidente com o voo 2283", destacou o MTE.
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O g1 pediu um posicionamento à Voepass sobre o relatório. Assim que a companhia aérea se manifestar, o texto será atualizado.
R$ 730 mil em infrações
Ainda de acordo com o ministério, os principais problemas encontrados durante a fiscalização incluem:
falta de controle efetivo da jornada da tripulação;
descumprimento da Lei dos Aeronautas quanto a limites de jornada e períodos mínimos de descanso; e
violação de cláusula da Convenção Coletiva voltada à prevenção da fadiga.
Por conta dessas irregularidades, a Voepass recebeu 10 autos de infração, que podem gerar multas de aproximadamente R$ 730 mil. “Além disso, foi notificada por não recolher mais de R$ 1 milhão em FGTS de seus empregados”, frisou o MTE.
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O acidente
O avião, com 58 passageiros e quatro tripulantes, decolou de Cascavel (PR) com destino a Guarulhos (SP) e caiu no condomínio Residencial Recanto Florido, no bairro Jardim Florido, no início da tarde.
A aeronave decolou às 11h56 e o voo seguiu tranquilo até 12h20. Segundo a plataforma Flightradar, avião subiu até atingir 5 mil metros de altitude às 12h23, e seguiu nessa altura até as 13h21, quando começou a perder altitude.
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Nesse momento, a aeronave fez uma curva brusca. Às 13h22 — um minuto depois do horário do último registro — a altitude estava em 1.250 metros, uma queda de aproximadamente 4 mil metros. A velocidade dessa queda foi de 440 km/h.
A aeronave atingiu o quintal de uma casa do condomínio e os moradores saíram ilesos. Ninguém em solo ficou ferido. O morador da residência atingida afirma que a família ficou em choque.
Destroços de avião em Vinhedo
Miguel Schincariol/AFP
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