Unicamp 2026: da geografia à biologia, entenda como a COP30 deve inspirar questões do vestibular
23/10/2025
(Foto: Reprodução) Terra Indígena Yanomami em Roraima
Juliana Dama/G1
A realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) no Brasil em 2025 colocou o país no centro das discussões mundiais sobre o meio ambiente. Com isso, o evento é um dos temas mais cotados em vestibulares como o da Unicamp e o Enem, segundo o professor Luís Felipe Valle, do Colégio Oficina do Estudante.
Para ele, a expectativa é que os exames usem o tema para criar questões interdisciplinares que conectem a crise climática a fatores políticos, econômicos e sociais (entenda abaixo).
O g1 realiza, nesta quinta-feira (23), um plantão tira-dúvidas ao vivo como preparação para o vestibular. A transmissão, que pode ser acompanhada aqui, começa às 15h e vai abordar questões de português, biologia, matemática e química.
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O especialista em geografia e atualidades lembra que tanto a Unicamp, quanto o Enem já abordaram o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris em edições anteriores, mostrando que grandes iniciativas sobre o clima aparecem com frequência nas avaliações.
“O vestibular gosta muito de trazer essa conexão que envolve a história, química, biologia, geografia na hora de mostrar como o meio ambiente está relacionado a questões também políticas, econômicas e sociais no século XXI”, diz o professor.
Nesta reportagem você vai ver:
O protagonismo brasileiro
Interdisciplinaridade e atualidade
Como estudar na reta final
Exemplo de questões
O protagonismo brasileiro
g1 na Cop: veja os destaques sobre a COP30 sediada em Belém
Segundo Valle, o destaque do Brasil no debate ambiental global é histórico por conta da biodiversidade e, especialmente, pela Amazônia. A COP30, em Belém (PA), simboliza a retomada desse protagonismo, assim como exige que o país preste contas das próprias falhas.
"O Brasil vem para dar uma satisfação e servir como uma referência para países que têm se industrializado rápido e também como um dos membros do Brics", explica o professor Luiz Felipe.
🔎 O Brics é um grupo de países emergentes que inclui Brasil, Rússia, China, Índia, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Egito, Arábia Saudita, Etiópia, Indonésia e Irã.
O professor argumenta que essa busca por reconquistar o protagonismo está ligada a uma carga de culpa por problemas ambientais, especialmente nos últimos anos em relação ao desmatamento, grandes incêndios, e o crescimento do agronegócio e da mineração.
Tema interdisciplinar e atual
O professor acredita que o assunto deve aparecer de forma central no vestibular a partir de duas temáticas:
as questões diversas ligadas ao meio ambiente;
as contradições que o país enfrenta.
🌲 Mas que contradições são essas? Luís diz que, de um lado, o Brasil apresenta iniciativas de desenvolvimento sustentável baseadas em energias limpas, agroecologia e empoderamento de povos tradicionais.
No entanto, mantém raízes em um desenvolvimento que se baseia na exploração de petróleo, expansão do agronegócio e na visão de que a natureza é um obstáculo ao progresso. Isso pode surgir em forma de provocação no vestibular.
Esse debate reforça o caráter interdisciplinar, fazendo com que o tema apareça em questões que relacionam mais de uma disciplina. Veja alguns exemplos:
Geografia e química: em questões sobre o impacto das emissões de gases como o CO2, os efeitos da queima de combustíveis fósseis e a formação da chuva ácida;
Geografia e biologia: sobre savanização da Amazônia e ciclos de chuvas;
Geografia e história: sobre como o meio ambiente contribuiu para transformação do capitalismo, ou investigar as vulnerabilidade de populações marginalizadas a desastres climáticos.
“Uma interdisciplinaridade biologia, química e geografia vai envolver agricultura e abre espaço para falar sobre racismo ambiental, como as populações marginalizadas estão mais vulneráveis à problemas climáticos e desastres ambientais como foi em Porto Alegre”, desenvolve.
O professor ainda cita outras abordagens para revisar:
Debate tecnológico: sobre como as novas tecnologias e a Inteligência Artificial exigem enormes quantidades de energia e resfriamento.
Capitalismo e economia: questões de como as lideranças lucram com a destruição e negam a crise climática.
“Infelizmente muito do que está ali [Agenda 2030 da ONU] não será cumprido em 5 anos, nem no cenário mais otimista que a gente possa imaginar. E isso aparece bastante em geografia, mas também história, e sociologia, do ponto de vista da economia, das sociedades”, esclarece.
Da linha do tempo aos noticiários: como estudar na reta final?
Às vésperas das provas, Valle recomenda que o aluno otimize a revisão estudando, principalmente, a cronologia que permite observar a complexidade das questões ambientais que estão além da COP30, o que inclui temas como:
Guerra Fria, em especial o avanço tecnológico da chamada Revolução Verde na década de 1960 e a negligência inicial com o meio ambiente;
Anos 1990 e 2000, a partir das revoluções tecnológicas nos campos da genética e das telecomunicações; e a transição para um capitalismo informacional;
Década de 2020, quando a questão ambiental se tornou central, na mesma medida que o negacionismo se fortaleceu.
O professor também recomenda:
Focar no material visual: estudar a interpretação de mapas, gráficos, charges e tabelas, que são frequentemente utilizados na introdução das questões.
Acompanhar tudo sobre a COP30: ver as negociações políticas e a cobertura de grandes veículos jornalísticos e do próprio evento, evitando blogs e fontes não verificadas.
Reforçar o repertório filosófico/literário: sugestão de autores como Ailton Krenak (Ideias para Adiar o Fim do Mundo) e o filme "Não Olhe Para Cima", que aborda o negacionismo científico.
Exemplo de questões
O professor afirma que o tema é aposta certa para todas as provas, mas que o aluno pode encontrar diferentes formas de abordagem. O Enem tende a ser mais técnico, segundo ele, evitando tensões ao focar em dados e problemas gerais. Já a Unicamp é mais provocativa e costuma de estimular reflexões engajadas a partir da exposição de contradições. Veja:
O Enem costuma trazer elementos mais técnicos e pode falar, por exemplo, de como a redução da cobertura vegetal reduziu a formação dos “rios voadores” que abastecem o Centro-Oeste.
A Unicamp, por sua vez, poderia fazer uma abordagem parecida, mas expondo alguma contradição. Por exemplo, pode citar a expansão do agronegócio como responsável pela redução de água, que acaba o prejudicando.
Veja a seguir como o tema foi cobrado nos dois exames em anos anteriores.
(Unicamp 2023 1ª fase) A tabela a seguir destaca, para o ano de 2019, os 11 municípios brasileiros que mais emitiram gases do efeito estufa causadores do aquecimento global, conforme o total emitido de CO2 em toneladas. A partir da análise dos dados anteriores e de seu conhecimento, é correto afirmar que os municípios com:
Unicamp 2023 - 1ª Fase: questão sobre emissão de CO2
Reprodução
A) menor extensão territorial e alta densidade demográfica foram responsáveis pela maior emissão de CO2 decorrente da decomposição dos resíduos sólidos em aterros sanitários.
B) grande extensão territorial e baixa densidade demográfica foram responsáveis pela maior emissão de CO2, o que se correlaciona com o avanço da mineração e a construção de hidrelétricas.
C) menor extensão territorial e alta densidade demográfica foram responsáveis pela maior emissão de CO2 decorrente da instalação de novas indústrias de bens de capital.
D) grande extensão territorial e baixa densidade demográfica foram responsáveis pela maior emissão de CO2, o que se correlaciona com o avanço do desmatamento e incêndio florestal.
Comentário do professor:
A resposta correta é a alternativa D, que correlaciona a maior emissão de CO2 com o avanço do desmatamento e incêndio florestal, principalmente nos municípios amazônicos.
Esta questão, segundo Valle, trouxe a habilidade de leitura de números na tabela questionando se o candidato entende que, atualmente, o desmatamento não está mais ligado ao processo de expansão urbana industrial, mas sim de atividades ligadas ao agronegócio e à mineração.
E complementa: isso ocorre principalmente no Brasil, onde cidades muito grandes nas regiões Centro-Oeste e Norte, especialmente na borda sul, apresenta o avanço das frentes do agronegócio.
“A leitura da tabela serve para que o candidato perceba que onde tem a maior emissão de CO2 são os municípios de grande área e densidade demográfica relativamente baixa [...] uma questão que aborda leitura, interpretação e uma conjuntura que envolve elementos políticos, culturais, sociais, econômicos, além dos ambientais”, explica.
(Enem 2024) A 26ª Conferência do Clima das Nações Unidas foi realizada com a perspectiva de que os países tornassem ainda mais ambiciosos os compromissos assumidos no enfrentamento das mudanças climáticas, de modo a evitar que a temperatura global se eleve acima de 1,5 °C, marca que já vinha sendo discutida desde o Acordo de Paris, de 2015.
A pressão do setor empresarial, que se posicionou de maneira contundente nesta COP-26, gerou impacto positivo. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) capitaneou, por meio do movimento Empresários pelo Clima, a adesão de 119 CEOs de importantes empresas e 14 instituições do setor privado, de setores tão diversos como agronegócio, alimentício, aviação, elétrico, farmacêutico, finanças, infraestrutura, logística, papel e celulose, petroquímico, saúde, tecnologia, telefonia e varejo.
O Brasil deixa a conferência com o compromisso de fazer valer sua meta e reduzir 50% dos gases de efeito estufa até 2030 em relação aos níveis de 2005 — anteriormente, a meta de redução era de 43%.
Conforme o texto, o compromisso assumido pelo Brasil foi resultado dos tensionamentos promovidos por
A) povos ribeirinhos e segmentos culturais.
B) blocos econômicos e instituições militares
C) grupos científicos e universidades públicas.
D) organismos supranacionais e sociedade civil.
E) agentes governamentais e demanda turística.
A resposta correta é a alternativa D e segundo Valle, a questão traz uma leitura sobre o papel da sociedade civil e dos setores supranacionais na questão do meio ambiente. A ideia da pergunta é mostrar como essas políticas públicas são coletivas e globais.
Para o professor o destaque é falar como o setor privado (agronegócio, aviação, setor elétrico, infraestrutura) está relacionado a questão ambiental e como a questão ambiental também envolve a questão econômica.
“É uma questão de leitura, de interpretação, que traz uma reflexão interessante. E a fonte que eu tinha destacado [de um jornal confiável] aparecendo como texto base é outro detalhe interessante também para destacar”, explica.
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